quinta-feira, 24 de novembro de 2011

LESMA e Faculdade de Direito (FDCL) assinam convênio

 
LESMA e Faculdade de Direito assinam convênio para elaboração de pesquisa

Parceira vai estudar a vida e a obra do jurista Lafayette Rodrigues Pereira e faz parte do projeto “Nos Caminhos de Conselheiro Lafayete”

No dia 17 de novembro a Liga Ecológica Santa Matilde (LESMA) e a Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete, assinaram convênio de parceria para desenvolver pesquisas sobre a vida e a obra do jurista Lafayette Rodrigues Pereira (1834-1917),  patrono do município de Conselheiro Lafaiete nascido na fazenda dos Macacos, em Queluz. A parceira faz parte do projeto “Nos Caminhos de Conselheiro Lafayette” e conta com estagiários de curso de Direito da instituição e da LESMA.
Na abertura a diretora da LESMA Selma da Silveira Pereira leu pronunciamento da entidade onde enfatizou a importância da parceria para o estudo e divulgação do nome de nossa cidade em âmbito nacional, através da valorização de seu patrono. O documento lembrou ainda a memória do historiador lafaietense Allex Milagre, cuja obra “Lafayette Rodrigues Pereira, um ilustre queluzense” (LESMA Editores) jogou luzes sobre a figura emblemática do conselheiro do Segundo Império. Allex Milagre faleceu em novembro de 2009, dois meses após o lançamento do seu livro.
A cerimônia de assinatura do documento foi enriquecida com palestra proferida pelo deputado federal e atual secretário de Defesa Social, Lafayette Andrada. Em sua explanação Lafayette Andrada traçou um painel sobre a vida do conselheiro do Império, bem como sua atuação política e sua carreira como jurista. Ele enfatizou a importância da obra de Lafayette, sobretudo o livro “Direito das Coisas”, na elaboração do primeiro  Código Civil brasileiro. Lafayette Andrada é organizador do livro “Lafayette, um jurista no Brasil” (Editora Del Rey), importante obra que enfatiza a trajetória do conselheiro.
O evento fez parte do II Workshop da Faculdade de Direito, que envolveu várias atividades acadêmicas. Dentro da solenidade a LESMA comemorou seus 13 anos de fundação, ocorrido no dia 15 de novembro.


PRONUNCIAMENTO DA SENHORA SELMA LÚCIA DA SILVEIRA PEREIRA, REPRESENTANTE DA LIGA ECOLÓGICA SANTA MATILDE (LESMA), POR OCASIÃO DA ASINATURA DO CONVÊNIO ENTRE A LESMA E A FACULDADE DE DIREITO DE CONSELHEIRO LAFAIETE COM VISTAS A ESTABELECER PROJETO DE PESQUISA SOBRE A VIDA E A OBRA DO JURISTA LAFAYETTE RODRIGUES PEREIRA

1 – Se queres ser universal catas a tua aldeia

Partindo desta idéia, vendíamos nossas camisas e decorávamos nossas bandeiras com epigramas de aventura. Isto foi há 13 anos na Gênese Bandeirante. Bandeiras e camisas: faz muito tempo que estão desfraldadas.
Fundada em 15 de novembro de 1998, no bairro Santa Matilde, às margens do rio Bananeiras, panteão da nação Carijós, a Liga Ecológica Santa Matilde (LESMA), sempre se fez reconhecer no cerne do seu lugar – presença autêntica.

2 – Aldeia

O movimento evolutivo que coordena o mundo das atitudes nos deu o mundo físico. Conselheiro Lafaiete, lugar em que nascemos ou escolhemos para viver. É a nossa essência afirmativa da cidadania; a fonte do anima: ansiamos pela árvore da Vida.
A civilidade precisa ser entronizada e o ser que se dispõe a conhecer a sua herança deve traçar o seu futuro e escolher as armas para o êxito. Nós escolhemos a Cultura, a Ecologia, a História e o Turismo.

3 – Casa

Comecemos pelo último a entrar pela nossa sala: o Turismo. Vestido de azul, entre seus desafios e limites, o Turismo é o recadeiro que leva e traz o museu de novidades.
Este é o tempo que vivemos: dinâmico e incerto. O Turismo não é portal do Tempo e pode, ao mesmo tempo, abrir as portas de qualquer resistente ou incivilizado.

4 – Coração

A Cultura é a essência do pensamento e se multiplica em emoção. A LESMA, essencialmente, usa desta versão guerreira.
A Cultura é uma arma muito poderosa. Não como propaganda ou perfumaria. A Cultura está mais viva que nunca.

5 – Natureza

A Ecologia nos humaniza. Muitas vezes pelo sofrimento, ora pela aflição. É ela que também acalma na sua lenta regeneração. A Ecologia está mais viva que nunca.

6 – Memória

Caminhos de Queluz, rota do minério, alma vegetal. No caminho da História encontramos nomes de altíssimo quilate: Avelina Noronha, Antônio Perdigão, Angelo Oswaldo de Araújo Santos e Allex Milagre.
PAUSA. Allex Milagre nos traz a este momento. No âmbito da história moderna de Queluz de Minas, este escritor e jornalista foi o maior arquiteto da reintronização local do patrono do município, LAFAYETTE RODRIGUES PEREIRA. Allex Milagre trabalhou para desconstruir  o mito do Conselheiro Lafayette ausente. E o coração de Allex, para quem o conheceu, não tinha medidas. Pesquisou, notificou, esmiuçou e ajudou a todas a encontrar o que procuravam.
Allex era multiplicador! Uniu-se aos herdeiros do patriarca e consolidou a genealogia regional. Buscou objetos, traçou arcos de coerência, consolidou a mitografia.

7 – Parceiros

O livro “Lafayette, um jurista no Brasil”, organizado pelo dr. Lafayette Andrada e publicado pela editora Del Rey, e um marco que prima pela cristalização do ideal perquiridor com vistas a elucidação. Focado sob a luz do manto familiar, a obra reconstrói um importante documento de época e costumes. História das raízes. Assim, introduzidos na memória, não desviamos de nossa função de aldeia. Nosso enraizamento.
Hoje, na assinatura deste convênio, ressurge mais um baluarte a retumbar nosso coro: a Faculdade de Direito de Conselheiro Lafaiete (FDCL), através do Núcleo de Extensão e Pesquisa (NEP), e em comunhão com o corpo acadêmico, ao aquecer a brasa da história, faz justiça à memória desse emérito jurista brasileiro.

8 – Nos caminhos de Conselheiro Lafayette

Vejam   que ópera convergente! Quantas mentes e corações se unem para ascender à obra do grande homenageado, que saiu ainda menino, de Queluz de Minas.
De Queluz a Congonhas, Prados, Ouro Preto, São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará e Maranhão. Conselheiro Lafayette, finalmente você está de volta. Vem com a força de um herói que não sucumbe ao tempo e  às suas artimanhas. Que bom revê-lo! Pode entrar, a casa é sua.


17 de novembro de 2011
LIGA ECOLÓGIA SANTA MATILDE (LESMA)
Conselheiro Lafaite/MG




segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Não aprendi dizer adeus

Não aprendi dizer adeus

“Se há algo de belo e precioso, além dos espíritos das florestas e da imensidão das águas, isto é o olhar afetuoso da criança amazonense. Algo profundo, inesquecível e ligeiramente triste. Mas só ligeiramente pois logo elas estão sorrindo como se quisessem nos marcar para sempre, lá no fundinho da alma de visitante. Foi o que aconteceu.”
Grupo Lesma -  Conselheiro Lafaiete – MG

Créditos: Wagner Vieira

GRATIDÃO DÁ A MEDIDA DO CORAÇÃO

GRATIDÃO DÁ A MEDIDA DO CORAÇÃO

Foi cerca de 40 dias interagindo com os amazonenses e entidades promotoras. 30 desses dias ativamente integrados ao Programa Verde Perto. Longe de casa (bota longe nisso!) e fora do círculo Sudeste. Foi enorme o carinho do povo amazonense. Cada casa foi nossa casa. Cada pessoa é um segredo aberto. Tentaremos lembrar os principaos nomes e lugares do enredo MINAS/AMAZÔNIA. Desculpamo-nos de antemão por qualquer lapso de memória.
Agradecemos às pessoas de Leonardo Rodrigues, Tatiana, Andrey Joãozinho, Jusse, Ana Luíza, Marilene, Isaura, Carminha, Chica, Isaque, Francildo, sr. Campeão (e família), Vanderlei, Valéria (UEA), sr. Abel, Rachel, Rafa, Ian, Jussara, Preto, Nazareno, Saimo, Raimundo Nonato, Marcelo, Dinda, mestre Juvenal (PA), Marcelo Rodrigues, Carol, Elen e Rafael (Manaus), Raifran, Gracimar e Davi (barqueiros do Paz & Bem e Syborg), Carminha, Pingo e família.
Agradecimentos às entidades: Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), Universidade Estadual do Amazonas (UEA), Associação dos Artesãos de Tefé, Associação dos Trabalhadores Rurais de Jutaí e Juruá, Grupo de Carimbo Kuatá (Alter do Chão/PA), jornal O Solimões (Tefé).
Agradecemos as cinco casas que nos acolheram (abertas em coração). Casa de Léo e Tati, casa do Andrey, República do Buraco Quente (Tefé), Casa dos Professores (Forte das Graças), Casa de Marcelo e Carol (Manaus). Todos esses passam a residir agora no país da memória.

Créditos: ICMBio

Filhos de João Batista

Filhos de João Batista

Memória Viva: João Batista foi o grande líder da Amazônia moderna, uma espécie de Chico Mendes local e também com um fim não muito feliz. A garotada a seguir ladeando o mestre Abel, são novas lideranças.

Legenda: Leonardo Rodrigues (coordenador), Sebastião Braz, Marcelo Ventura, Francisco Nazareno, Abel Vieira (Mestre), Anivaldo Marinho, Raimundo Nonato e 
Naílson Mendes da Silva
Créditos: ICMBio

Oficinas Poéticas

Oficinas Poéticas

As oficinas poéticas do grupo LESMA foram adaptadas entre o protagonismo juvenil e o naturalismo do arquétipo amazônico. Jovens vigorosos, autênticos, bonitos, sentimentais... Lideranças colossais, amigos de fé. Ilhados de afeto na comunidade de Marauá (cidade de Jutaí), cerca de cem jovens compuseram, coletivamente, os poemas e os mais artistas dos grupos encenaram no dia seguinte. Diante da grandeza do rio Jutaí, da agudeza da floresta amazônica e da plenitude do céu que nos protege, os temas foram desenvolvidos: ÁGUA, TERRA E AR.

AÉREAS: O poeta Osmir Camilo coordenou grupos de ofi-cina sobre o ar que respiramos. Dos pássaros à internet, do mosquito ao avião. Ternura, pluma e asas para a imaginação. A coordenadora auxiliar foi Tatiana Souza.

Créditos: ICMBio


TERRESTRES: A poeta Patrícia Fonseca coordenou grupos de oficinas tematizando a Terra. Pés no chão e alma ribeirinha. Cobras e lagartos. Gente e calor dos corpos em ação. O coordenador auxiliar foi Leonardo Rodrigues.
Créditos: ICMBio


AQUÁTICAS: O poeta Wagner Vieira coordenou as oficinas úmidas e fluídicas tematizando o tesouro amazônico: a água. Peixes, quelônios, botos, jacarés. Sangue, suor é lágrima: batismo e navegação. A coordenadora auxiliar foi Rachel Acosta.
Um paraíso que fala muitas línguas
Créditos: ICMBio

Imprensa em Tefé (AM)

 
Imprensa em Tefé (AM)




O jornal O Solimões (edição nº 125/ outubro de 2011) noticiou à página 5, reportagem enfocando a atuação do grupo LESMA na Resex do Baixo Juruá, ocorrida na primeira ida do grupo lafaietense ao Amazonas (outubro) para participar do projeto Jovens como Protagonistas do Fortalecimento Comunitário. A LESMA agradece ao jornalista Raifran Brandão (foto) pelo apoio ao trabalho da entidade.

Créditos: ICMBio

Educação ambiental: LESMA na Amazônia

Educação ambiental: 
LESMA na Amazônia

Créditos: ICMBio

Em sua segunda viagem de trabalho à Amazônia, o grupo Lesma participou do projeto Jovens Como Protagonistas do Fortalecimento Comunitário, realizado em unidade de conservação do tipo Reserva Extrativista (Resex) no estado do Amazonas. Nos dias 4 e 5 de novembro o terceiro módulo do projeto foi rea-lizado na Resex do Rio Jutaí, na comunidade de Marauá. Estiveram presentes lideranças e jovens vindos de diversas comunidades. A saber: São Francisco do Cazuza, Vila Efrain, Monte Tabor, Bate Bico, Cariru, Seringueiro, Pururé, Novo Cruzeiro, Piranha, São João do Acurau e Bordalé.
As atividades envolve-ram palestras, trabalhos em grupo, depoimentos e oficina de poesia com a temática ambiental. Os poetas Osmir Camilo, Patrícia Fonseca e Wagner Vieira, do grupo Lesma coordenaram construção de poemas e apresentações de recitais juntamente com a comunidade enfocando a realidade local, que é intimamente ligada à natureza, sobretudo por ser fonte de sustento e arquétipo cultural do amazonense.
O projeto é executado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) e este módulo foi coordenado por Tatiana Souza, Rachel Acosta (ICMBio) e Leonardo Rodrigues (Universidade Estadual do Amazonas – UEA). A metodologia de aplicação é a do Programa Verde Perto gravitando pelas interfaces: Protagonismo Juvenil, Interdisciplinaridade e Educação Lúdica.
Lesma na UEA
Na cidade de Tefé, o grupo Lesma realizou duas apresentações no dia 9. O público alvo foram alunos da Universidade Estadual do Amazonas (UEA). Na oportunidade os poetas autografaram seus livros e estabeleceram intercâmbio cultural com a instituição.



quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Diário da Amazônia



05/10/2011
Às 09:30 hrs, horário de Brasília, iniciamos a Jornada LESMA em direção à Amazônia. Saída da Confins em Vôo direto a Manaus, já no vôo as expectativas: desejos. Da vista do avião a exuberância da floresta tira o fôlego, surpreende, encanta. Os rios. ÁGUA, ÁGUA, ÁGUA MÃE. Começamos a conhecer do alto a grandeza da Amazônia. O encontro dos rios: Negro e Solimões lembra o amor, que é construído aos poucos e não há fusão imediata de almas, é preciso percorrer um longo caminho lado a lado, no caso dos rios mais de 6 km.
13:30 em horário local, a temperatura é de cerca de 33 graus. Chegada a Manaus e breve espaço para troca de aviões.  Agora seguimos rumo a Tefé, mais uma hora e meia de vôo. E o que vemos: florestas, rios, florestas, rios, verde-azul!
15:15: Chegada a Tefé. Quentura! Léo é quem nos recebe e nos apresenta a cidade. Tefé é uma cidade de cerca de 60.000 habitantes, a 500 km da capital do estado do Amazonas, Manaus. A maioria das casas são feitas de madeira, não há canalização do esgoto, nem transporte coletivo. O transporte principal são as motos, que transportam até três pessoas, o capacete é utensílio em desuso. Estamos diante de uma realidade bastante diversa da nossa. O Brasil é um gigante, as suas mazelas também. O povo Tefeense é simpático, recebe bem os visitantes, querem saber de onde viemos, nos contam as notícias locais. Já começamos a nos sentir em casa. A nossa casa é onde a gente está.

06/10/2011
Passeio de turista: o mercado municipal: muito peixe, frutas e gente bonita. A beleza amazonense salta aos olhos. O antigo seminário, estrutura imponente da Prelazia de Tefé. O lago de Tefé, grandioso. ÁGUAS.
À tarde a preparação da oficina de poesia a ser realizada na Comunidade Baixo Juruá. Conhecemos o irmão cósmico Andrey, artista de alma boa e sensível, companheiro dessa jornada e certamente de muitas outras.

07/10/2011
09:00hrs, A caminho do Baixo Juruá, aeroporto de Tefé. Andrey, Wagner, Osmir, Patrícia e Léo. Seguimos em vôo de 40 minutos. No fusca de asas a paisagem está mais próxima, e a floresta cada vez mais dentro de nós. Lindeza que não cabe nas palavras.
Chegada a Juruá, Tati é quem nos recebe no aeroporto. Seguimos rumo ao escritório da ASTRUJ (Associação de trabalhadores de Juruá) que é dividido com o pessoal do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Biodiversidade). Lá conhecemos Isaura e Ana Luiza, que assim como Tati trabalham no ICMBio. Almoço em Juruá, os peixes e a farinha, a cultura culinária local: Delícia.
Depois do farto almoço, descemos de Recreio pelo Rio Juruá, o afluente mais sinuoso do Amazonas. O Amazonas é responsável por 20% da água doce que deságua no oceano, a informação, que deixa o queixo caído, é de Léo Rodrigues, biólogo e participante do Projeto Jovens como Protagonistas do Fortalecimento Comunitário, idealizador do Programa Verde Perto, cujo trabalho é ramificado e desenvolvido junto as Reservas Extrativistas do Baixo Juruá e do Rio Jutaí. Tatiana Souza é a proponente dessa vertente do projeto. O comandante é Greicimar, e o Recreio, nosso barco, começa a subir às águas serenas do Rio Juruá. Rio, caminho que anda. O nome do barco dita o rumo desse encontro: Paz e Bem.
Calor e vento fresco no rosto, olhos atentos à paisagem, mata de ambos os lados. Silêncio de contemplação. Cinco horas de navegação, a turma se entrosa, estamos todos nos conhecendo. Ritmo gostoso de descoberta, amizade começando a nascer. A surpresa dos botos cor-de-rosa que saltam imponentes, mas delicados, no Juruá.
19:00 hrs: Chegada à Comunidade Forte das Graças da Resex do Baixo Juruá. É noite e a floresta ao redor é misteriosa, escura mata, escuro rio. Na casa dos professores somos recebidos por Wanderley, professor da comunidade. A vivência amazônica começa a sobrepor-se a mineirisse. Nada de camas, nosso leito agora são as redes. Montamos as redes, Léo garante o jantar e é hora de descansar que o dia seguinte é de poesia. Daqui pra frente estamos sem comunicação com o mundo fora da reserva.



08/10/2011
Dia claro, manhã quente. Acordamos com a música dos pássaros, muitos, numa sinfonia um pouco incompreensível para nossos ouvidos metropolitanos, embora encantadora. É hora de conhecermos a comunidade. No café da manhã, servido em um espaço comunitário, olhares curiosos, os nossos e o dos comunitários que simpaticamente nos recebem. Crianças, muitas crianças ao nosso redor. Sorridentes e descontraídas. Fomos recebidos literalmente de braços abertos. Carinho e carisma. Durante a manhã a turma do ICMBio ministra palestra e debate sobre a criação da Resex do Baixo Juruá, a primeira a ter Plano de Manejo. A Resex é criada no ano de 2001 e possui área de 188.000 hectares. A comunidade mostra-se participativa. Campião e Dinda, líderes comunitários contam para os mais moços as lutas travadas no passado para a criação da reserva. Chico Mendes está no meio de nós.
Almoço comunitário, momento de descontração onde conhecemos mais as pessoas da comunidade, bem como a culinária local, peixes variados e a tradicional tapioca. Começamos a conhecer também os insetos da região: Piuns e Carapanãs parecem gostar bastante do sangue mineiro.
A tarde é de poesia, iniciamos com um recital e a seguir convocamos a comunidade à participação na oficina, a maioria dos jovens mostra interesse e os grupos são divididos: um grupo para a escrita de poesias, outro para produção musical e outro para experimentação dos instrumentos da LESMA.
No meio da tarde a surpresa de Francilvan, menino da comunidade. Durante a oficina de instrumentos, a sõesia, um dos caxixis danificou-se. Francilvan, menino observador, pegou o caxixi sem que ninguém notasse, no seu jeito silencioso de ser, e com astúcia e com o que aprendeu na montagem de um outro instrumento da LESMA, o Luiz Caixeiro (que é feito a partir de garrafas pet furadas e com palitos de churrasco transpassando) concertou o caxixi com o aproveitamento da ponta de uma garrafa pet. Surpreendeu a todos do recital com o presente. Francilvan, o Cicinho, como carinhosamente é chamado na comunidade, é artista, nota-se. Delicado e criativo! Como nos conta Francildo, seu irmão também artista, músico e compositor: “Francilvan é artista mesmo porque ele não copia só, mas cria coisas da cabeça dele mesmo”
Fim de tarde, quatro poemas construídos pelos jovens: Juruáguas, Árvores de Juruá, Voa Juruá e Nada Juruá. O Baixo Juruá está vivo na poesia. Para o dia seguinte combinamos a montagem de um recital com os poemas produzidos nessa primeira etapa da oficina. Ainda com a energia vibrante da oficina, encerramos a tarde com um recital de poesias do Grupo LESMA. Os olhares dos jovens denunciam a expectativa pela continuação da oficina e nos apontam a responsabilidade no trabalho. Estamos nos entregando de alma e coração. Vamos de mãos dadas. Sensação de missão cumprida. Relax no Seu Gogó, flutuante da comunidade onde funciona uma espécie de mercearia. Em casa de Wanderley a fila do banho, de caneca. A água gelada acalma a quentura. Preparação espiritual para o segundo dia de oficina.

09/10/2011
Mais um dia de poesia no Forte das Graças. Como rotineiro, o café da manhã comunitário. As crianças nos procuram todo o tempo, querem conversar, brincar, querem um abraço. Muito afetuosas. Menino de mata, que convive com a natureza em sua forma pura não conhece o mal dos homens e não tem medo de gente. Sinceridade a flor da pele. Um momento de reflexão para nós, vindos da cidade e suas dificuldades de relacionamento, onde quase sempre tememos e desconfiamos do outro, aqui não tem neurose. Olhos nos olhos.  Estamos cada vez mais nessa lógica natural de convivência e respondemos reciprocamente.
Durante a manhã, enquanto a turma do ICMBio trabalha a história das Resex, preparamos o segundo dia de poesia. Ficou combinado a divisão em grupos para o trabalho de declamação dos poemas construídos. Osmir, Wagner, Patrícia e Andrey escolhem um poema cada. Andrey confecciona desenhos de pássaros, flores, peixes para compor o cenário do recital. Enquanto preparamos os materiais as crianças sempre ao redor, trazendo frutas e propondo brincadeiras.
Pausa para o delicioso almoço comunitário, preparado carinhosamente pelas cozinheiras da comunidade. Para a sobremesa, entre o prosear, as meninas nos presenteiam com jambos. 
Tarde de poesia: é hora de trabalhar. Separamos grupos com os jovens que gostariam de recitar e um grupo que gostaria de fazer o acompanhamento percussivo. Patrícia: PoemaJuruáguas, Andrey: poema Árvores do Juruá, Wagner: Nada Juruá e Osmir: Voa Juruá. A turma da percussão fica com Léo. Tatiana e Ana coordenam as atividades de preparação de cenário. Isaura é quem registra os trabalhos. Separados os grupos iniciamos os preparativos do recital. Osmir é quem coordena a percussão durante os poemas. Grupos ensaiados, iniciamos a apresentação. Momento de muita emoção. As apresentações acontecem e surpreendem pelo empenho de cada um. Grande parte dos participantes nunca tiveram contato com poesia falada. A poesia fala por si e contagia a todos. Cada um doando um pouco de si, declamando, fazendo a percussão, compondo o cenário. Não há muitas palavras que possam descrever esse momento forte e belo.
Missão cumprida. As poesias ecoam pela comunidade. Alguns declamam no banho, outros durante as brincadeiras. A nossa poesia é regional, mas agora sabemos, é também universal.
A noitinha um animado forró no Centro Comunitário encerra o dia. E descansemos que amanhã é dia de fazer bonecos!

10/10/2011
A chuva que cai densa durante a noite deixa a manhã fresquinha e espanta os piuns e carapanãs. É dia do torneio de futebol. Nem a lama densa que cobria o campo espantou a vontade de jogar. Homens, mulheres, meninos e meninas montam seus times. Impressiona a força e a raça com que jogam. Wagner é o juiz, para o jogo pra dar falta, jogadores protestam, de ambos os lados. Não querem perder tempo de jogo! O jogo é na valentia. É a principal atividade de lazer local. Futebol, paixão nacional.
Provamos Abiu, fruta típica da região Amazônica, doce, doce.
À noite: momento mágico, transpassando as fronteiras de conflitos intercomunitários que separam Forte das Graças em I e II, católicos e evangélicos, apoiadores da Reserva e comunitários que não concordam com a mesma, o Recital LESMA Poesia realizou uma apresentação em Forte das Graças II, em uma igreja da Assembléia de Deus: momento forte. Deus está em todo lugar. Alguns moradores de Forte das Graças I também foram para assistir a apresentação. Com a sutileza própria da poesia, as comunidades estiveram unidas para vivenciar este instante.

11/10/2011
Durante a manhã a apresentação do ICMBio é sobre o conselho da reserva. Enquanto o pessoal capricha na parte teórica, ajudamos Andrey a preparar a oficina de bonecos que começa ainda na parte da manhã.
Enquanto os mais velhos preparam os bonecos a conversa com as crianças encanta e atiça a curiosidade, o assunto são as lendas dos botos da Amazônia, bastante vivas na comunidade. O Boto que roubou a sombra de um menino e levou pra longe uma moça, amedronta as crianças. Os botos são criaturas maléficas e é preciso ter muito cuidado com elas. Segundo as crianças na comunidade existiam apenas dois botos bons que eram de seu Chicó. Alertam-me para que quando eu ver novamente um boto não olhar nos olhos dele.
Pausa para o delicioso almoço e muita prosa. Logo após é hora de retornar à oficina de bonecos comandada por Andrey. Material reciclado e muita criatividade. A oficina é um sucesso, bonecos de variadas cores secam ao sol sob os olhares ansiosos das crianças. Fim de tarde, cada com seu boneco e o juramento comandado por Andrey de cuidar e respeitar os bonecos que habitam uma alma soprada por nós.
Tempo de andar um pouco pela floresta, caminhamos seguindo Léo, a sensação da mata ao redor é ímpar. O cheiro do mato, o barulho dos macacos, os sons dos pássaros, o mistério verde. Sentimos a energia da floresta amazônica mais próxima. As pontes, a casa de farinha, esmero da comunidade. Voltamos antes que seja noite.
Encerra-se mais um dia com o animado forró, para os artistas é hora de trabalho: montar uma peça de teatro de bonecos com o tema do conselho. A peça é montada e os personagens: Sr. Dúvida, Dr. Conselho e Comunitário. Hora de dormir e preparar para o último dia de oficina e de estadia na comunidade Forte das Graças. Já começamos a sentir saudades.
Fazem cinco dias que não me olho no espelho, e ao contrário do que sentiria normalmente esse utensílio não me faz falta, acho que estou mais próxima da beleza que vale a pena. Também não uso relógio, a ligação com o tempo é a ligação com a natureza.

12/10/2011
Sol forte, último dia em Forte das Graças. Acordamos cedinho para a preparação do teatro. Depois do café da manhã com bastante tapioca (Hummmm!) ensaiamos a peça de teatro. Andrey interpreta o Comunitário, Osmir: o Dr. Conselheiro, Wagner: Sr. Dúvida e Patrícia a mãozinha mágica. Peça ensaiada e batizada “Eu preciso de um conselho”, preparamos para a apresentação. Enquanto isso, aproveitamos para brincar com as crianças, sempre ao nosso redor. Pedem com insistência para que não vamos embora. Eita que já ta doendo a dor de partir.
Pouco antes do almoço apresentamos a peça de teatro. Pelos aplausos e risadas do público, acreditamos ter sido sucesso. Dorré, jovem da comunidade Antonina e Francildo, de Forte das Graças,  apresentam a música que compuseram nesse encontro alertando para o perigo da extinção:
“O tambaqui, o peixe boi e o cará
São algumas dessas espécies
que temos que preservar”

Antes de encerrarmos as atividades nos despedimos da comunidade com um recital. Agradecemos por meio da poesia a acolhida e a troca. Estamos muito emocionados.
É dia das crianças e antes de ir embora: hora de distribuir bala pra criançada, o momento alegre dissipa a tristeza da partida e em ritmo de risadas e com o desejo vivo de voltar que damos adeus a Comunidade de Forte das Graças e seguimos rumo a Juruá.
Chegada à noitinha em Juruá, estamos de alma leve, sorriso nos rostos, sensação ímpar de dever cumprido. Hora de comemorarmos e descansar.

13/10/2011
Amanhece o dia. Café da manhã na Lanchonete de Juruá e volta pela cidade, nos preparamos para encarar novamente o fusca de asas e seguir rumo a Tefé. Depois da experiência no meio da mata agora vemos a mata de cima, imponente.  
Chegada a Tefé, descanso e visita à casa de Andrey. À noite: festinha de despedida na casa do Léo e da Tati. Muita poesia e causos de Francildo, jovem que seguia rumo a São Paulo para um curso sobre Educação Ambiental, junto com Andrey. Francildo segue antes rumo a Manaus, vai visitar o pai Chicó, que se encontra adoecido. Andrey vai a São Paulo pro curso e aproveitando vai ver Cris, sua companheira de amor e trabalho, também em tratamento de saúde. Desejamos, silenciosamente e em prece, saúde a ambos.

14/10/2011
Último dia em Tefé. Passeio pela cidade, é tempo do manejo do Pirarucu. Na feira o tamanho do peixe impressiona, quase dois metros de altura. Fotos pra mostrar em Minas Gerais o quase inacreditável. Preparamos para a volta: despedida da galera do ICMBio, amigos. Patrícia, Wagner, Osmir, Andrey e Francildo embarcamos juntos rumo a Manaus. Depois a tríade de poetas Lesmas segue seu rumo de volta às Minas Gerais. É sexta à noite quando desembarcamos no aeroporto de Confins. 19 horas em Manaus, 20 horas em Belo Horizonte.

15/10/2011
Conselheiro Lafaiete. Confesso voltar um pouco assustada com as luzes da cidade, o ar rarefeito, a correria, as buzinas, já deu saudade daquele cheiro de mato e bicho, cheiro bom de gente valente e sincera, cheiro de terra e rio, cheiro de Amazônia.

PARCERIA


ICMBio
 Instituto Chico Mendes 
Miinistério do Meio Ambiente








Bagagem



I - O que levamos
As expectativas em torno do desconhecido, este estranho de nós mesmos. No fundo está tudo dentro de nós, é só despertar no encontro. No fundo era nisso que pensava enquanto ia pra esse desconhecido, pra Amazônia que povoa nosso imaginário: pulmão do mundo. Levando um pouco de Minas, na rapadura na mala, e a alma de mineiro, quieto e desconfiado. A espreita dos acontecimentos como quem sabe que sua hora vai chegar. Plantando sempre e esperando a colheita. Minério nos pulmões. Medo nos corações. Turbulência de cidade em des-envolvimento, sim, ao passo que crescemos, estamos ficando mais distantes. Levava principalmente a poesia nossa de cada dia, sustentada em nossa regionalidade, o frio na barriga de levar essa cria nossa pra tão longe, será que ela vai ser aceita, entendida, compreendida?

II - O que trouxemos
Vigor. A experiência na Amazônia, única. A grandeza das florestas e dos rios, inimagináveis no nosso contexto. A grandiosidade de um Brasil que são muitos. Trouxemos a força de uma juventude que começa a se assumir como protagonista de sua história. O sorriso e o carinho de crianças sem medo de gente ou bicho, que enfrenta com valentia os desafios de viver cercados pela floresta. A sabedoria dos mais velhos que conduzem os jovens na experiência da descoberta de pertencimento à terra. A doçura e ao mesmo tempo força das mulheres da comunidade, guerreiras das lutas sol a sol. A beleza das marcas e traços dos povos da floresta. As amizades construídas ou fortalecidas: Andrey, irmão cósmico, Isaura, Ana, Tati e Léo, timão! A certeza de no Sudeste estarmos privilegiados e ao mesmo tempo tão atrasados, com preocupações mais estéticas que poéticas, no sentido real da poesia como trabalho. E, sobretudo a certeza de que nossa poesia chegou ao coração do povo amazonense. Missão cumprida!

LESMA no Amazonas






RESEX DO BAIXO JURUÁ

A Reserva Extrativista (Resex) do Baixo Juruá é uma unidade de conservação (UC) federal de uso sustentável e foi criada em 2001 através de decreto do presidente da República. Trata-se de um novo modelo de gestão de territórios que pretende promover o desenvolvimento sustentável.
A Resex do Baixo Juruá possui área de 187.982 ha e localiza-se na porção centro-oeste do estado do Amazonas, nos municípios de Juruá e Uarini, na bacia do rio Juruá.
Caracterização ambiental
O clima na reserva é tropical úmido, com temperatura média de 27ºC. A estação seca tem pequena duração (junho a setembro), enquanto que o pico das chuvas ocorre entre janeiro e fevereiro.
O rio Juruá é conhecido por ser o mais sinuoso da Amazônia, cheio de curvas. É um rio de água branca que carrega grande quantidade de sedimentos e nutrientes, o que garante abundância de peixes. Mais de 99% da Resex é coberta por floresta tropical densa, preservada, com presença de várzea e igapós, formas de vegetação alagadas sazonalmente.
A região do rio Juruá é conhecida por sua alta piscosidade e abundância de quelônios das espécies tartaruga, tracajá e iaçá, além de grande diversidade de fauna e flora. Entretanto a Resex do Baixo Juruá representa uma região pouco estudada com muitas espécies desconhecidas. Estudos apontam a ocorrência de espécies em extinção como o tamanduá bandeira, a onça-pintada e o peixe-boi.
População
A população da Resex do Baixo Juruá é remanescente de antigos seringais existentes na região, resultado da miscigenação de nordestinos e indígenas. A população é formada pelos “comunitários”, como são chamados,  e é de aproximadamente 800  pessoas está distribuída em 15 comunidades. Dez estão ao longo da calha do rio Juruá: Botafogo, Antonina, Vai quem Quer, Morada Nova, Arati, Socó, Forte das Graças I e II, São Francisco e São José do Aumento; outras quatro estão no rio Andirá: Oito Voltas, Escondido, Lago Grande, Cumaru e uma no Igarapé do Branco.
A economia baseia-se no extrativismo e agricultura de subsistência. O principal produto gerador de renda da Resex é a farinha de mandioca amarela, produzida de forma artesanal. Além da farinha, as comunidades vivem do extrativismo de produtos da floresta e pesca.
Desde 2007 as comunidade da Resex realizam a pesca manejada do pirarucu, espécie ameaçada de extinção. A atividade coletiva gera renda e mobiliza os moradores em torno da preservação ambiental.

Unidades de Conservação – UC’s
A Resex é gerenciada, no dia a dia, pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão federal ligado ao Ministério do Meio Ambiente (MMA) em parceria com a Astruj (Associação dos Trabalhadores Rurais de Juruá), que representa os moradores beneficiários da Resex. Contudo a instância máxima de deliberação é o conselho Deliberativo, presidido pelo ICMBio  e composto por membros de diferentes representações comunitárias.
A base da Resex é o plano de manejo, documento construído de forma participativa e aprovado pelo conselho em fevereiro de 2009, que contém o plano de utilização e regras de uso dos recursos e de convivência entre os moradores.

Contatos:
Resex do Baixo Juruá – ICMBIO
Prédio do Ibama
Estrada do Aeroporto, 725 - Centro / Tefé (AM)
Fone: (97) 3343-4000

ASTRUJ (Associação dos Trabalhadores Rurais de Juruá)
Rua Senador João Bosco, 34 – Centro / Juruá (AM)
Tel/Fax: (97) 3427-1251 / 3427-1107

AMAZONAS: Terra de Aquarius






É uma terra onde as palavras imensas ganham dimensões extraordinárias. É uma terra de pouca terra. É uma terra de muitas árvores. De todas as formas e tamanhos. Juntas, deitadas e verticais. Árvores nas casas, nas pontes, nos flutuantes, nos objetos, nos barcos. Pulmão do mundo e reserva de dados: computação vegetal.
PEIXES, ALIMENTAÇÃO E FRUTOS.
Populações ribeirinhas, cidades ilhadas, frutos nativos, pequenos roçados, peixes, peixes. Era de Peixes.
Alimento milenar. Técnicas de caça, dança do peixe, caça de frutos, alimentação diversa, manejo, chás caseiros, chás florestais, farmácia natural: chão. Na mesa, na pescaria, no trabalho e no lazer. Peixes de todos os gostos. Peixe pra dar e vender. Frutos de todos os sabores: acres e melosos, pequenos, enormes. Frutos, muitos frutos!
AVES - Aves cantam sem gaiola. Cercam a cidade de assovios. Não há quase aves urbanas. Creiam, aqui as aves são aéreas. Diversas, um monte de asas, milhares de bicos. Algumas menos tímidas viram cores de representação do Brasil Floresta. A maioria são secretas. Nem todos vão lá. No coração da floresta elas sim: voam em todas as direções. Galináceos? Também.
GENTE - O sol queima a pele que já era mestiça, morena agrupada, multiplicada em estilo naturalista. Beira de lago, beira de rio. Atenção e força.
Arrastão de motos. Motos, muitas motos, motoqueiros nas pequenas metrópoles. Motoqueiros flutuantes e lisos cabelos. Alguns crioulos, alguns  alourados. Mas a grande maioria empresta seu estilo ao epicentro da morfologia amazônica.
ÁGUAS - As águas... Estas sim são as marcas da Amazônia. Turvas e paradas, torrentes de chuvas dentro do calor, roupas encalouradas, roupas encharcadas. Mãe dos peixes, bebida sagrada, água insana e morada dos quelônios, répteis e anfíbios. Avassaladora, destruidora de pontes. Apaziguadora, abençoada que nos traz alimentos. Águas são lágrimas que derramamos, nem sempre de  angústia. Embora mais escassas, as lágrimas são também de felicidade.

Anjo seringueiro no coração da floresta





Durante muito tempo as florestas habitaram os arredores das águas. Quase tudo era floresta. Hoje a maioria das florestas habitam os arredores das cidades e áreas isoladas, em continentes extremos. Vistas à distância, as florstas exalam duas versões contraditórias: fascínio e medo.
Altas árvores, adjuntos caules, espessas e rijas, cipozal exposto em recantos secretos. Onde domésticos não entram com facilidade. Enraizado na urbe, o horizonte que se abre é denso. Entrar de costas na floresta, respeitar suas lendas e admirar seus espíritos. Que saem à noite e deixam rastros.
Os desertos representam a transpiração seca do Globo e o cerrado garante as variantes do campo. O cerrado é a varanda em andamento: lenços de despedida. Árvores pequenas e a fauna visualizada no vegetalismo tacanho.
O céu espera penetrar na floresta, o azimute também. Sendo secretos e distantes, os espíritos da floresta tornam-se casualmente insignificantes. Tendo os corações transparentes, vez por outra abrem as portas da percepção para que anjos seringueiros possam peregrinar no anteplanos distribuindo corações de látex.
Osmir Camilo, Editor

Programa Verde Perto




PROGRAMA VERDE PERTO

Verde Perto é o nome de um programa de educação ambiental pautado na interdisciplinaridade e no protagonismo das ações. Surgiu em 2007 em Conselheiro Lafaiete, na Região Central de Minas Gerais. O professor e biólogo Leonardo Silveira Rodrigues, trabalhando na rede particular de ensino pediu aos seus alunos sugestões de como deveriam ser as aulas de biologia. Entre as inúmeras respostas vieram salutares sugestões como inclusão de atividades lúdicas, oficinas de fotografia, saídas de campo etc.
Ao ter aquele “arsenal” de ideias em mãos e em conversas com o psicólogo José Odilon Rodrigues Pereira este lhe disse: “Você tem um projeto nas mãos”.
Eis o embrião do que veio a ser o Programa Verde Perto. Nasceu modesto e tornou-se um programa de educação ambiental amplamente aplicável e que já foi replicado quatro vezes, em dois estados diferentes para públicos e faixas etárias bem diversificadas.
Voltemos no tempo:
Momento 1
Agosto de 2007, município de Conselheiro Lafaiete.  O Verde Perto mobilizou alunos das redes pública e privada em torno de ações ambientais. Além de palestras, oficinas (artes plásticas, publicidade, poesia e música) o projeto culminou com o lançamento do livro “De Villa Real de Queluz a Conselheiro Lafaiete”, do museólogo Antônio Perdigão (Lesma Editores, esgotado). Entre os palestrantes destaque para a palestra inaugural realizada por um dos mentores da proposta, José Odilon Rodrigues Pereira e a palestra de encerramento com o ambientalista Apolo Heringer Lisboa, liderança reconhecida nacionalmente e ligado ao projeto Manuelzão. Este encerramento foi no Centro Cultural da Escola Estadual Narciso de Queiroz, onde os alunos apresentaram seus resultados: protagonismo juvenil e efervescência socioambiental.
Em seu escopo teórico o Programa Verde Perto baseia-se no tripé:  Transdisciplinaridade, Protagonismo Juvenil e Educação Lúdica com referência nas obras de Howard Gardner e do professor Celso Antunes.
Momento 2
Museu da Amazônia (Musa). Cidade: Manaus/AM. Através de contatos com Rita Mesquita e com o apoio científico de Enio Candotti, o Programa Verde Perto foi realizado novamente, agora em caráter interestadual, na capital do estado do Amazonas e tendo como público-alvo jovens da periferia de Manaus. Baseado no mesmo sistema, porém como um programa interdisciplinar regular e hoje faz parte da Agenda do Musa (Museu da Amazônia).
Neste momento o programa gerou os seguintes produtos: esculturas, colagens, desenhos, poemas, contos, histórias, vídeos, fotografias, peças teatrais e textos de divulgação científica. A experiência constata a aplicabilidade da metodologia Verde Perto em qualquer realidade socioambiental e cultural.
Momento 3
Novamente em Conselheiro Lafaiete a metodologia Verde Perto é replicada. Desta vez para um público bastante específico: alunos especiais da Apae de Lafaiete. O projeto “Do lixo ao luxo”, idealizado pela geógrafa e funcionária da Apae/Lafaiete, Selma da Silveira, está acontecendo desde abril e utiliza da metodologia Verde Perto e tem conseguido ótimos resultados junto aos alunos da Apae. O projeto alia diferentes práticas pedagógicas como palestras, aulas teóricas, saídas de campo e oficinas artísticas para despertam em seu público alvo a consciência ambiental e desenvolver senso crítico em relação ao  mundo consumista em que vivemos.
Momento atual
De novo no estado do Amazonas o Verde Perto agora serve de suporte teórico e foi adaptado para o projeto “Jovens Protagonistas para Formação de Lideranças”, de autoria da analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), Tatiana Souza. O projeto é realizado nas comunidades das reservas extrativistas do Baixo Juruá, Rio Jutaí e Flona (Floresta Nacional), de Tefé. Leonardo Rodrigues também participa como representante da Universidade Estadual do Amazonas (UEA) e da Liga Ecológica Santa Matilde (LESMA).
Verde Perto no Pará
A ambientalista Selma Silveira, representando a Apae de Lafaiete e a ong LESMA, estará  fazendo a defesa oral do seu projeto “Do luxo ao lixo”, variante do Programa Verde Perto, durante o 24º Congresso Nacional da Apae, em Belém do Pará durante os dias 6 a 9 de novembro.
Estas variantes e capacidades de adaptação fazem do Programa Verde Perto
Agradecimentos
Unipac Lafaiete, professor Antônio Severino (na época secretário de Educação e que deu todo apoio logístico ao Verde Perto), Dimas Marioza, Selma, José Odilon, Wagner, Marquinho, Marcos Bittencourt,  Osmir, Patrícia,  Leonardo Fernandes, Márcio Zaum, Wilson, Sô Campeão, Ana, Isaura, Dinda, João (Juruá), Gracimar, Frencildo, Antônio Carlos, Rislene e demais amigos.

O Programa Verde Perto, em sua quarta edição, está sendo realizado com o apoio incondicional do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), órgão ligado ao Ministério do Meio Ambiente. O projeto Jovens Protagonistas, de autoria da agente ambiental Tatiana Souza, natural de Conselheiro Lafaiete (MG). O projeto recebeu vários apoios e está vinculado à formação de lideranças nas Unidades de Conservação (UC’s), do Baixo Juruá, Rio Jutaí e Flona de Tefé.

Projeto Jovens Protagonistas






O projeto “Jovens Protagonistas para Formação de Lideranças Comunitárias”, de autoria da analista ambiental do ICMBio, Tatiana Souza, envolve moradores e usuários da Resex do Baixo Juruá, Resex do Rio Jutaí e Flona de Tefé. O órgão executor é o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e visa promover a gestão participativa das Unidades de Conservação (UC) através do protagonismo das comunidades tradicionais que residem nesses locais.
A metodologia empregada é a do Programa Verde Perto de Educação Ambiental, que se sustenta no tripé: Transdisciplinaridade, Protagonismo Juvenil e Educação Lúdica. O projeto foi construído de forma participativa, através de reuniões entre a equipe executora e as comunidades realizadas de janeiro a maio deste ano. O projeto acontece em cinco módulos e vai até dezembro. Palestras, apresentações culturais, oficinas artísticas, trabalhos em grupo e esporte dão a tônica dos módulos que vem alcançando importantes resultados nas UC’s onde é aplicado. Através dos encontros são fortalecidas as lideranças locais e identificadas novas lideranças comunitárias que atuam na proteção das reservas de suas respectivas comunidades.
Forte das Graças
Este terceiro módulo do projeto “Jovens Protagonistas” aconteceu na comunidade de Forte das Graças, na Resex do Baixo Juruá. O encontro foi de 8 a 12 de outubro e contou com jovens vindos das seguintes comunidades: Antonina, Botafogo e Cumaru. Com cerca de 300 moradores a população da comunidade é composta de descendentes de seringueiros que povoaram a região a partir da década de 50 do século passado.
A comunidade conta com duas escolas municipais, um centro comunitário e dois templos religiosos: Assembleia de Deus e igreja de Nossa Senhora de Nazaré.
O presidente da Associação Comunitária de Forte das Graças é Raimundo Ricardo de Souza, conhecido como “Campeão”.




“Eu gostaria que as pessoas da comunidade e da cidade jogassem todos os lixos no lixo para não jogar lixo no rio nem no meio da rua. Queria que o rio e outros lugares fossem todos limpos para nos proteger da dengue. Por isso temos que jogar o lixo no lixo e sempre manter o vazo de lixo fechado”.

Andréia, (comunidade Forte das Graças)

Reviver



Emas
Dilemas
Poemas

Fogo
Solto
Louco

Cerrado
Queimado
Acalorado

Astuta
Luta 
Resoluta

Enegrecido
Revivido
Reflorescido

Recrescida
Merecida
Vida!




Poema: Tatiana Souza

AMAZONAS

(Bandeira do Estado do Amazonas)
Localização: Região Norte do Brasil
Área: 1.570.745,680 km²
População: 3,4 milhões de habitantes
Número de municípios: 62
Capital: Manaus
Gentílico: Amazonense
Posição no ranking do PIB nacional: 15º
Principais rios: Rio Amazonas e Rio Negro



MINAS GERAIS

Localização: Região Sudeste do Brasil
Área: 588.384.30 km²
População: 20 milhões de habitantes
Número de municípios: 853
Capital: Belo Horizonte
Gentílico: Mineiro
Posição no ranking do PIB nacional: 3º
Principais rios: São Francisco e rio Doce



JURUÁ

Localização: 03º28’51” Latitude Sul 66º04’08” Longitude Oeste
Clima: Equatorial
Municípios Limítrofes: Fonte Boa, Jutaí, Carauari, Uarini e Alvarães
Distância da capital: 651 km
Área: 19.400.418 km²
População: 10.822 habitantes
Densidade: 0,56 habitantes por km²
Índice de Desenvolvimento Humano - IDH: 0,546
Produto Interno Bruto – PIB: R$ 36.334.592
PIB per capita: R$ 4.022,87



CONSELHEIRO LAFAIETE

 Localização: 20º39’36” Latitude Sul 43º47’09” Longitude Oeste
Clima: Tropical de Altitude
Municípios Limítrofes: Congonhas, Ouro Branco, Itaverava, Santana dos Montes, Cristiano Otoni, Queluzito e São Brás do Suaçuí
Distância da capital: 96 km
Área: 369.544 km²
População: 116.527 habitantes
Densidade: 315,33 habitantes por km²
Índice de Desenvolvimento Humano - IDH: 0,793
Produto Interno Bruto – PIB: R$ 852.707.346
PIB per capita: R$ 7.507,81